
7 Saias Nazarenas
As sete saias fazem parte da tradição, do mito e das lendas desta terra tão intimamente ligada ao mar.
O povo diz que representam as sete virtudes; os sete dias da semana; as sete cores do arco-íris; as sete ondas do mar, entre outras atribuições bíblicas, míticas e mágicas que envolvem o número sete.
De facto, a origem não é de simples explicação e a opinião dos estudiosos e conhecedores da matéria sobre o uso de sete saias não é coincidente nem conclusiva. No entanto, num ponto, todos parecem estar de acordo: as várias saias (sete ou não) da mulher da Nazaré estão sempre relacionadas com a vida do mar.
As nazarenas tinham o hábito de esperar os maridos e filhos, da volta da pesca, na praia, sentadas no areal, passando aí muitas horas de vigília.
Usavam as várias saias para se cobrirem, as de cima para protegerem a cabeça e ombros do frio e da maresia e as restantes a taparem as pernas, estando desse modo sempre “compostas”.
A introdução do uso das sete saias foi feito, segundo uns, pelo Rancho Folclórico Tá-mar nos anos 30/40, segundo outros pelo comércio local no anos 50/60 e ainda de acordo com outras opiniões as mulheres usariam sete saias para as ajudar a contar as ondas do mar (isto porque “ o barco só encalhava quando viesse raso, ora as mulheres sabiam que de sete em sete ondas alterosas o mar acalmava; para não se enganarem nas contas elas desfiavam as saias e quando chegavam à última, vinha o raso e o barco encalhava”).
O uso de várias saias, pelas mulheres da Nazaré, também está ligado a razões estéticas e de beleza e harmonia das linhas femininas – cintura fina e ancas arredondadas, (esta poderá ser também uma reminiscência do traje feminino de setecentos que as damas da corte usavam – anquinhas e mangas de renda – e que pavoneavam aquando das visitas ao Santuário da Senhora da Nazaré), podendo as mulheres usarem 7, 8, 9 ou mais saias de acordo com a sua própria silhueta.
Certo é que a mulher foi adotando o uso das sete saias nos dias de festa e a tradição começou e continua até ao presente. No entanto, no traje de trabalho são usadas, normalmente, um menor número de saias.
Folclore
A originalidade do folclore da Nazaré advém, sobretudo, do forte e bem marcado carácter dos nazarenos.
Dançam o vira – que sendo de origem nortenha ganhou aqui movimentos e características rítmicas únicas – bem como o corridinho (vindo do Algarve e transformado ao ritmo dos nazarenos), com tanta energia que deixa bailadores e assistência sem fôlego.
Dançam e cantam ao mesmo tempo, sem coro ou música gravada, com alegria e graciosidade. Um “bailado” de ritmo e cor.
Dançam descalços, como dançavam, na praia, pescadores e peixeiras, ao som dos rudimentares instrumentos usados nas festas da classe piscatória – que à falta de melhor, tocavam com duas pinhas, uma garrafa com garfos e um cântaro de barro batido com um abanador – aos quais, posteriormente, foram juntando o harmónio, a concertina (e depois o acordeão) e o clarinete, que a tocata utiliza.
As letras e músicas do folclore nazareno reflectem a forte ligação desta gente ao mar e à faina da pesca, gente esta que vivendo quase sempre na incerteza do futuro, têm a capacidade de viver com um sorriso nos lábios, desafiando as reviravoltas da vida.