
Mosteiro de Alcobaça
O Mosteiro de Alcobaça, também conhecido como Real Abadia de Santa Maria de Alcobaça, fica situado em Alcobaça, distrito de Leiria.
Fundado pouco depois do próprio reino, o Mosteiro de Alcobaça resultou de uma doação do Rei D. Afonso Henriques à Ordem de Cister, cumprindo assim a sua promessa pela vitória contra os mouros na Batalha de Santarém.
Deste modo, o rei combinava a sua fé religiosa com a sua estratégia política de repovoamento e desenvolvimento daquela zona do país.
Ali chegados por volta do ano 1150, os monges brancos acabam por abandonar a Abadia Velha apenas em 1222. Eles ajudam na edificação da nova Abadia, ao mesmo tempo que se dedicam à lavoura de onde provinha quase todo o seu sustento, tornando-se mesmo numa importante parte da dinâmica socioeconómica daquela zona. Simultaneamente, os monges trabalham no campo das letras, e é nesta abadia que o rei D. Dinis funda o “Estudo Geral” que mais tarde viria a dar lugar à Universidade de Coimbra.
O lugar deste monumento no panorama artístico nacional é de primeira grandeza. Os cistercenses desempenharam um papel pioneiro por toda a Europa na expansão de novas formas construtivas, enformadas pelos valores de austeridade e pureza promovidos pela doutrina de São Bernardo.
Na igreja, estes valores são visíveis na opção por um repertório decorativo de vegetalismos muito simples para os capitéis, de tendência coimbrã, e na ordenação despojada dos tramos do corpo. Filiada institucionalmente na Abadia de Claraval, a Ordem copiou-lhe aqui o seu terceiro modelo (adaptando apenas o necessário para a adaptação à topografia local), adoptando uma cabeceira com capela-mor de duplo-tramo, circundada por um deambulatório de nova capelas radiantes amparadas exteriormente por arcobotantes.
Desta primeira fase construtiva é também o transepto, o coro dos monges e todo o traçado geral do mosteiro.
De uma segunda fase datam as naves, que se elevam quase à mesma altura, numa verticalidade monumental, intensificada pela luz interior, que provém quase exclusivamente da enorme rosácea da entrada. O estreito rasgamento das altas frestas laterais e da capela-mor também contribui para moderar a iluminação.
Houve ainda uma terceira fase construtiva, a que correspondem os dois últimos tramos das naves e a fachada original de que resta apenas o portal. Os mesmos valores de gravidade encontram-se em todo o conjunto das dependências conventuais medievais que, singularmente a nível europeu, se conserva praticamente intacto: o Claustro do Silêncio, o Refeitório e a Sala do Capítulo.
Aqui se afirma, pois, o momento da adopção do formulário gótico em Portugal, na sua variante cisterciense, e em todas as suas potencialidades. Este formulário veio a reflectir-se em Santa Clara-a-velha de Coimbra e nas Sés de Coimbra, Lisboa e Évora, constituindo um dos raros casos em que a arquitectura monástica influenciou a episcopal.
Ao longo dos tempos e através das sucessivas alterações de que foi sendo objecto, aqui e ali o convento afastou-se da sobriedade defendida por São Bernardo, que foi substituída por uma enorme riqueza decorativa.
Destacam-se os túmulos de D. Pedro e D.ª Inês de Castro, de qualidade ímpar a nível europeu, retratando em micro-arquitectura o elaborado gótico flamejante que despontava nas catedrais europeias; a magnífica porta da sacristia já de tempos manuelinos; ou a monumental capela-relicário, repleta de talha dourada nos interstícios dos bustos-relicários em terracota policromada, obra dos monges barristas alcobacenses, que desenvolveram uma importante produção, sendo deles também as figuras régias da sala dos Reis e a obra ìmpar do Retábulo da Morte de São Bernardo.
Resistindo a graves catástrofes, umas naturais (como graves inundações ou sismos), outras humanas (como saques e vandalismo), o Mosteiro de Alcobaça é um dos mais importantes mosteiros cistercienses medievais sobreviventes, a nível europeu, e um marco da história portuguesa, pela sua importância quer política, quer estética.
A sua fachada principal ergue-se hoje para uma ampla praça lajeada, obra de requalificação urbana recente da autoria de Gonçalo Byrne.